quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O traçado na garganta

       Logo cedo passo os olhos em A Gazeta - jornal capixaba de circulação em todo o estado do Espírito Santo -, que me chega diariamente impresso a meu canto de recolhimento doméstico de chão e de verde.  Recolho o jornal e o desobrigo de sua proteção de plástico, localizo uma manchete aqui, guio-me por outro caminho de notícia, giro mais uma folha...

Hoje, minha curiosidade ganhou clareza em Lobato e sua voz embaraçada por um corte premeditado de uma tesoura em sua garganta. Em Opinião, p. 17. Lá estava Luiz Fernando Veríssimo a me dizer e a tantos outros leitores de seu entendimento sobre como lidar com a obra lobatiana.

Como se sabe, Monteiro Lobato vem dando esclarecimentos, ou melhor, sua obra Caçadas de Pedrinho está sob forte pressão em nível do Supremo Tribunal Federal, por conter trechos com vigor de racismo. Essa é uma das leituras, leitura possível. A audiência de conciliação realizada na
terça-feira, 11,  e mediada pelo ministro Luiz Fux não provocou consenso. Talvez na reunião de 25... Está divulgado em Universia, em O Mossoroense e ainda  em  O Globo G1 Vestibular Educação.

Caçadas de Pedrinho foi publicado em 1933, ano e cenários da primeira metade do século XX. Muito tempo de história! A era do livro impresso se vai e se esvai a galope, e se constata baixíssimo envolvimento com o efetivo exercício da leitura no Brasil.

Valho-me de Veríssimo: O essencial é que não se prive nenhuma criança brasileira de ler Monteiro Lobato. Mas tomo a liberdade de acrescentar: é preciso e necessário que o indivíduo leia Lobato  na íntegra, sem corte na voz. Nesse sentido, o essencial e imprescindível é que o país inteiro, com suas variadas cores, tenha o direito de ler e encarne o dever de ler, para que possa e saiba ancorar propostas de reescrita com ética e estética.

A escola é lugar deste compromisso: fazer da leitura a base da escolaridade e da cidadania. Eliana Yunes, no programa Sem Censura de 6 de agosto, dá conta desses enlaces e desencontros. Aqui ou aqui.

O texto de Luiz Fernando Veríssimo está disponível em O Estadão.

Santinho Souza


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